O Presépio


Presépio da Oficina de Machado Castro

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Presépio do Palácio de Queluz. Silvestre Faria Lobo (atrib.). Séc. XIX. Terá pertencido à rainha D. Carlota Joaquina


Um dos grandes símbolos religiosos, que retrata o Natal e o nascimento de Jesus é o presépio. De acordo com Rafael Bluteau e Cândido de Figueiredo, a palavra “presépio” provem do latim “praesepium”, que genericamente significa curral, estábulo, lugar onde se recolhe gado e que, numa outra óptica designa qualquer representação do nascimento de Cristo, de acordo com os Evangelhos [LUCAS 2: 1 a 18) e MATEUS 2: 1 a 11].
O primeiro presépio do mundo teria sido montado em argila por São Francisco de Assis em 1223. Nesse ano, em vez de festejar a noite de Natal na Igreja, como era seu hábito, o S. Francisco fê-lo na floresta da cidade de Greccio, na Itália, para onde mandou transportar uma manjedoura, um boi e um burro, para melhor explicar o Natal às pessoas comuns, camponeses que não conseguiam entender a história do nascimento de Jesus. O costume espalhou-se por entre as principais Catedrais, Igrejas e Mosteiros da Europa durante a Idade Média, começando a ser montado também nas casas de Reis e Nobres já durante o Renascimento. Em 1567, a Duquesa de Amalfi mandou montar um presépio que tinha 116 figuras para representar o nascimento de Jesus, a adoração dos Reis Magos e dos pastores ao Menino Jesus e o cantar dos anjos. Foi já no Século XVIII que o costume de montar o presépio nas casas comuns se disseminou pela Europa e depois pelo mundo.

As raízes da representação do presépio remontam ao evento religioso de que fala o texto de Lucas - um escritor cristão do século I:

«Quando ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz, e Maria teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.
Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram grande medo. O anjo disse-lhes “Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.” E de repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus, dizendo: “Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens que ele ama...”
(Os pastores) foram apressadamente, e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura» (Lucas 2, 6-14.16).
São muitos mais os núcleos presepistas do período barroco, espalhados por outras igrejas e museus do País, grande parte dos quais se encontra a norte do Tejo. Por entre todos emerge o Museu Nacional de Arte Antiga, onde, além dos exemplares expostos, e de outros cedidos para instituições públicas, se podem ver numerosas peças de presépios desmontados, conservadas nas reservas. Na capital são de referir ainda os seguintes: Igreja de São Vicente de Fora (no MNAA); Capela de Nossa Senhora do Monte; Igreja da Madalena; Basílica de Nossa Senhora dos Mártires; Museu Nacional cio Traje; Museu Nacional de Arqueologia. 
No Porto encontram-se presépios barrocos na Igreja da Lapa, na Casa-Museu Fernando de Castro e na Casa-Museu Guerra Junqueiro. Em Coimbra são igualmente três os presépios dignos de menção: Museu Machado de Castro; Igreja de Santa Cruz, Capela de Santo António dos Olivais. Este itinerário leva-nos a descobrir presépios barrocos um pouco por todo o País: em Braga, Museu da Catedral; no Bussaco, Igreja do Convento dos Carmelitas Descalços; em Aveiro, Museu de Aveiro; em Lamego, Santuário de Nossa Senhora dos Remédios; na Lapa (Sernancelhe), Igreja do Santuário de Nossa Senhora da Lapa; no Mosteiro (Castro Daire), Capela do Presépio; em Viseu, Museu de Arte Sacra e de Etnologia em Alpiarça, Casa dos Patudos; em Estremoz, Igreja da Misericórdia ou das Maltezas; em Portalegre, Associação de Presepistas.
O Presépio está profusamente representado também na pintura portuguesa antiga.


Gregório Lopes (c.1490-1550).
Presépio (c. 1527).
Óleo sobre madeira (128 x 87 cm).
Museu  Nacional de Arte Antiga, Lisboa.


Vasco Fernandes (activo entre 1501 e 1540).
Adoração dos Magos (1501-6).
Óleo sobre madeira (130,2 x 79 cm).
Museu de Grão Vasco, Viseu.



Josefa de Óbidos (1630 –1684).
Adoração dos Pastores (1669).
Óleo sobre tela (150 x 184 cm).
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.



André Gonçalves (1686-1762).
Adoração dos Magos (s/ data).
Óleo sobre tela.
Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra.


Domingos António de Sequeira (1768-1837).
Adoração dos Magos (1828).
Óleo sobre tela. (100 x 140 cm).
Colecção Particular, Lisboa.