A poesia de Camilo Pessanha foi o tema do 2º Círculo de Leitura

Realizou-se mais um encontro de entusiastas da literatura portuguesa, dinamizada pela Professora Anabela Amorim. Nesta sessão ficamos a compreender melhor a obra poética Clepsidra, de Camilo Pessanha
Clepsidra, título da colectânea de poemas, é um instrumento de medição do tempo utilizado na Grécia pelos oradores. Foneticamente o título lembra igualmente "hidra", o monstro marinho devorador.
O título sugere a fragilidade da vida e da condição humana, para o fluir inexorável do tempo, que não deixa que nada se fixe na retina (poema "Imagens que passais pela retina").
Estes são os grandes temas da obra: a efemeridade de tudo quanto passa, a perda, a inutilidade do que se faz ou vive. 


Imagens que passais pela retina 
Dos meus olhos, porque não vos fixais? 
Que passais como a água cristalina 
Por uma fonte para nunca mais!... 
Ou para o lago escuro onde termina 
Vosso curso, silente de juncais, 
E o vago medo angustioso domina, 
_ Porque ides sem mim, não me levais? 
Sem vós o que são os meus olhos abertos? 
_ O espelho inútil, meus olhos pagãos! 
Aridez de sucessivos desertos... 
Fica sequer, sombra das minhas mãos, 
Flexão casual de meus dedos incertos, 
_ Estranha sombra em movimentos vãos. 

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'